O ESG em ascensão e a nova era dos investimentos

Houve um tempo em que as empresas enxergavam o lucro como unanimidade nos objetivos internos, e bota tempo nisso! Ao longo de muitos anos vimos diversas indústrias ‘matando’ fatores ambientais e social para garantir sua produção intacta e o dinheiro no bolso.

E quem estava habituado a esse modus operandi não acreditaria que uma outra realidade estava prestes a se instalar, onde a sustentação de um negócio se baseia em pilares que vão muito além dos resultados financeiros de curto prazo.

Afinal, do que adianta uma operação lucrativa com riscos ambientais severos – qual a sustentabilidade desse negócio a longo prazo? Ou qual o sentido de construir um projeto beneficiado por uma cadeia de produção baseado em trabalho análogo à escravidão? 

Riscos gigantescos como esses, que já vimos nos noticiários, só terão espaço para quem persistir em tapar os olhos ou enxergar pelas sombras. Ao contrário disso, os fatores ESG vêm se instalando cada vez mais nas ações empresariais e isso pode gerar um impacto muito positivo no futuro de todos nós.

Mas, o que é ESG?

A sigla faz referências as palavras em inglês: enviromental, social and governance e representa um conjunto de fatores e critérios que tornam a filosofia de qualquer negócio mais sustentável no sentido de valorizar questões ambientais, sociais e de governança corporativa.

E essa forma de conectar investimentos com sustentabilidade veio para ficar, mostrando o quanto um negócio busca formas de minimizar seus impactos no meio ambiente, construir um mundo mais justo e responsável para as pessoas em seu entorno e manter os melhores processos de administração.

É um tipo de estratégia que não se abstrai do lucro. Pelo contrário, o lucro ainda é o objetivo, porém muda-se a forma de realizá-lo, realocando o dinheiro para projetos que visam um mundo mais consciente, igualitário, com maior respeito à individualidade das pessoas e maior responsabilidade no uso de recursos naturais e preservação do meio ambiente, por exemplo.

Quais são os critérios considerados no ESG?

Os três fatores mostram quanto uma empresa está comprometida em ter uma operação mais sustentável em termos ambientais, sociais e de governança. 

A letra E da sigla se refere às práticas de uma empresa em relação à conservação do meio-ambiente e sua atuação sobre temas como:

• Aquecimento global e emissão de carbono;
• Poluição do ar e da água;
• Biodiversidade;
• Desmatamento;
• Eficiência energética;
• Gestão de resíduos;
• Escassez de água.

Já a letra S diz respeito à relação de uma empresa com as pessoas que fazem parte do seu universo. Por exemplo:

• Satisfação dos clientes;
• Proteção de dados e privacidade;
• Diversidade da equipe;
• Engajamento dos funcionários;
• Relacionamento com a comunidade;
Respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas.

Por fim, a letra G se refere à administração de uma empresa. São elas:

Composição do Conselho;
• Estrutura do comitê de auditoria;
• Conduta corporativa;
• Remuneração dos executivos;
• Relação com entidades do governo e políticos;
• Existência de um canal de denúncias.

Como essas ações ficam na prática?

O Itaú, maior banco privado do país, trabalha com um portfólio de produtos de investimentos que se guia por fatores ambientais, sociais e de governança aplicados de forma restritiva. Ou seja, o dinheiro só poderá ser investido em empresas que tiverem aderência completa a uma análise guiada por tais critérios. 

O primeiro será um fundo ESG com capacidade de 1 bilhão de reais. Essa carteira estará disponível em duas versões, como fundo de ações e como previdência privada.

Esse foi o primeiro produto com plano bilionário da indústria de investimentos no Brasil dedicado à temática, mas os fatores ESG são considerados na análise de risco de crédito pela casa desde 2014.

Outro caso emblemático nos últimos anos foi o Projeto Sunlight, da Unilever, que desenvolveu um detergente lava-louças que usava muito menos água para o enxágue em comparação a outras marcas concorrentes.

A proposta fez superar o crescimento da categoria em mais de 20% em vários mercados com escassez de água, de acordo com o artigo da Mckinsey, uma empresa de consultoria empresarial americana. 

Outro exemplo é o da tradicional petrolífera finlandesa Neste Oil, uma das companhias que mais incorporaram fatores ESG, gerando, aproximadamente, dois terços de seu lucro a partir dos combustíveis renováveis, entre outros produtos sustentáveis.

Somente as empresas devem ter essa preocupação?

Não, cada um de nós somos responsáveis pelo o que fazemos com o nosso dinheiro e os impactos que ele gera. Quando consumimos um produto ou contratamos um serviço estamos fazendo escolhas e decidindo nosso posicionamento. 

As escolhas que fazemos hoje afetam nosso futuro em amplo sentido. Cabe tanto às empresas quanto aos investidores e consumidores desempenharem os seus papéis e maximizarem as oportunidades de gerar impactos positivos.

Ainda há pouca informação no Brasil e, portanto, há um espaço enorme para crescermos em termos de conteúdo, consciência, educação e engajamento no tema.

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